Para crescer rapidamente e escalar suas soluções no mercado, muitos empreendedores buscam aportes junto a investidores-anjo ou fundos de venture capital. Em 2021, ano em que o volume de investimentos nas empresas brasileiras de tecnologia alcançou o recorde de US$ 9,4 bilhões, algumas startups chegaram a fazer duas ou até três rodadas no período.
Muitos analistas consideram esse movimento excessivo, dado que é preciso um certo intervalo de tempo para o negócio evoluir. Independente de opiniões diversas sobre o cenário, a entrada de gestores é primordial para a operação e vai muito além do ponto de vista financeiro.
Ao atrair novos sócios, uma companhia em qualquer estágio de desenvolvimento se beneficia da colaboração de mentores experientes para adotar as melhores estratégias de crescimento e amadurecimento de sua startup. A depender dos objetivos e estágios da empresa, os investidores podem contribuir via financiamento e também compartilhando experiências pregressas muito ricas e que podem fazer toda a diferença no processo decisório da startup. A contrapartida na maioria dos casos é uma participação na empresa (equity), permitindo que o investidor faça parte do “captable” da empresa, tornando-se parte da sociedade.
Dessa forma, é imprescindível que os empreendedores façam o gerenciamento do captable com habilidade e bastante cuidado. Qualquer desalinhamento de interesses no momento do investimento pode prejudicar uma relação de longo prazo entre empreendedores e investidores, além de comprometer parte relevante da participação da empresa em momento inadequado. Tal aspecto pode ser decisivo para destravar determinado investimento, estabelecer a participação de outros sócios no futuro e definir o valuation de novas rodadas. Entenda mais a seguir.
O que é o captable?
O captable nada mais é que a abreviação para o termo capitalization table, ou tabela de capitalização, na tradução do inglês. De forma simples, é o dispositivo que descreve a participação dos empreendedores e demais sócios, como anjos ou fundos de investimentos, em uma empresa.
Além de definir a participação de seus acionistas, a ferramenta ajuda a compreender qual será o valor de mercado da startup após um round, quanto valem seus papéis e a fatia de um sócio que corresponde ao montante desembolsado depois de um ‘deal’.
Neste sentido, são alvos de avaliação o grau de maturidade da companhia, a qualificação dos times e empreendedores, a capacidade de execução de determinada ideia, as receitas e suas propostas para agregar valor a determinado segmento da economia, como os setores de educação, financeiro e logística.
Como definir as participações dos sócios em uma startup?
Para estruturar o captable, há algumas técnicas bem difundidas no ecossistema da inovação. Uma delas é tomar como base o valuation da empresa antes de determinado negócio. Veja um exemplo hipotético:
Ao observar o mercado financeiro, David, Fernando e Juliana resolveram criar uma fintech. Para dar os primeiros passos, os três desembolsaram dinheiro próprio e emitiram 500 mil ações. Sócio majoritário, o CEO David ficou com um pedaço de 65% (325 mil ações), enquanto Fernando e Juliana detinham duas frações de 17,5% da empresa (87,5 mil ações para cada um).
David = 325.000 ações.
Fernando = 87,5 mil ações.
Juliana = 87,5 mil ações.
Total = 500 mil ações.
Com a oferta de empréstimos e operações de antecipações de recebíveis, a empresa cresceu acima da média do mercado. Para continuar a expansão, porém, o trio decidiu que havia chegado o momento de fazer uma rodada de capital. Até aquele momento, a companhia era avaliada em R$ 15 milhões.
Digamos que um fundo de venture capital decidiu fazer um aporte de R$ 3 milhões na fintech. Antes de fechar a operação, os empreendedores e o fundo devem calcular quanto o valor atual representa das ações (500 mil) representam o pre-money valuation (R$ 15 mi).
R$ 15.000.000/500.000 ações = R$ 30 por ação.
R$ 30 é o valor de cada uma das 500 mil ações. Na próxima etapa, é necessário averiguar quanto o valor investido pelo fundo (R$ 3 mi) é capaz de comprar de acordo com o preço atual dos papéis (R$ 30) para a emissão de novas ações. Dessa forma:
R$ 3.000.000/R$30 = 100.000 é o número das novas ações.
Portanto, a nova configuração do captable para as 600 mil ações ficaria dessa maneira: o CEO David teria 54% do negócio (325 mil ações), os novos investidores teriam 16,6% (100 mil ações), a fatia de Fernando seria igual a 14,6% (87,5 mil ações) e Juliana somaria outros 14,6% (87,5 mil ações).
Veja que David continuaria como o sócio majoritário, mas a sua fatia foi reduzida de 65% para 54%.
ESOP - Employee Share Options Plans
Nas startups, mesmo rodadas de investimentos de milhões de dólares não garantem times formados por um grande número de colaboradores. Isso porque é comum a realidade na qual empreendedores precisam equilibrar cuidadosamente as receitas e as despesas. Para balancear a necessidade de oferecer remunerações mais vantajosas, muitas empresas acabam oferecendo pequenas participações no negócio para não perder quadros talentosos.
Esse mecanismo é definido na sigla ESOP, ou Planos de Opção de Ações para Funcionários. Aqui, a direção da companhia deve estabelecer um teto de participações que podem ser oferecidas - no mercado, é comum que esse percentual varie entre 5% a 10%. Com isso, os acionistas garantem um alinhamento das pessoas para com a cultura de geração de valor da startup.
Além de possibilitar que as pessoas permaneçam por mais tempo, garantindo que estratégias de médio e longo prazos sejam definidas de forma mais eficiente, colocar ações à disposição da própria companhia pode mostrar aos potenciais investidores uma mentalidade inclusiva e de foco nas soluções, resultando em mais benefícios frente aos rivais.
Quanto devo ceder de participação na minha rodada?
Essa é a pergunta de milhões. Pode ser duro, mas a resposta é: depende. Cada empresa tem uma realidade e um momento único. Responder a essa pergunta leva a um outro conceito muito relacionado, para o qual temos alguns conteúdos que podem te ajudar: o Valuation .
Mas fique tranquilo, não deixaremos a pergunta em aberto. Ao contrário, listamos abaixo algumas reflexões para empreendedores e investidores:
Investidores:
1. Qual o estágio de desenvolvimento da startup e qual o % de participação ela já tem comprometido com outros investidores?
2. De acordo com meu histórico e potencial de contribuição para essa startup (trazendo networking, conhecimento de negócios, etc), por qual % de participação eu estaria disposto dedicar meu conhecimento em prol do sucesso dessa empresa?
3. Quanto esforço e tempo eu tenho disponível para contribuir?
4. Caso minha participação seja muito relevante, será que posso diminuir o interesse de novos fundos aportarem na empresa em rodadas futuras?
5. Como consigo equilibrar os fatores listados acima e ainda assim obter retorno com meu investimento?
Empreendedores:
1. Em qual estágio de desenvolvimento está minha startup? Qual meu desafio atual?
2. Qual o tamanho do cheque que preciso para me desenvolver para a próxima etapa? *Dica bônus: capte apenas o essencial. Isso irá te proteger de diluição excessiva e manterá um senso de urgência saudável na empresa.
3. Pense menos em valuation. Pense mais no que esse investidor pode contribuir e o quanto de captable você está disposto a ceder para tê-lo no seu time. O valuation será apenas uma consequência.
4. Caso esteja em rodadas anteriores a uma Série A, procure manter um percentual de participação com fundadores relevantes, acima de 50%-60% em média. Esse percentual pode variar, mas será muito importante para gerar atração de novos fundos para próximos investimentos.
5. Caso sua empresa já esteja diluída, saiba que existem inúmeros meios para reverter a situação. Porém nessa etapa é importante que os fundadores dêem um passo atrás no modelo de negócio e na estratégia de crescimento para alinhar de forma mais assertiva como a empresa irá se estruturar e crescer nas próximas captações.
Esses são pontos importante para empreendedores e investidores avaliarem no momento da decisão do equity a ser cedido em determinado valuation.
Aviso importante, leia com atenção: As sociedades empresárias de pequeno porte e as ofertas apresentadas nesta plataforma estão automaticamente dispensadas de registro pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM. A CVM não analisa previamente as ofertas. As ofertas realizadas não implicam por parte da CVM a garantia da veracidade das informações prestadas, de adequação à legislação vigente ou julgamento sobre a qualidade da sociedade empresária de pequeno porte. Antes de aceitar uma oferta leia com atenção as informações essenciais da oferta, em especial a seção de alertas sobre risco e o material didático do investidor.